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Comediante. Sou comediante e vivo todos os dias essa comédia que é a vida. Se a tua não está engraçada é porque não estás olhando pelo prisma certo. No fim das contas, por mais que tenhas responsabilidade, honra e valores, tudo vai ser resumir numa única sentença: "Se phodeu. Virou banquete de vermes." Não gostou? Te phode! Não pedi para gostar! ;)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

ENOLA GAY


Caminhou até o carro como quem caminha pelo corredor da morte. Já tinha esquecido todo o discurso que havia preparado porque transpirava emoção e nervosismo no trajeto. Pensou a cada sinal que passava se o vermelho era algum sinal para não fazer o que estava disposto. Prosseguiu. Ao chegar a encruzilhada da rua pensou mais uma vez, hesitou, mas com o Diabo ao pé do ouvido entrou na rua e estacionou. Caminhou com um passo tímido até o portão da casa dela com algumas flores na mão. Tocou o interfone. Respirou fundo, perdeu o olhar no azul do céu até a hora em que ela apareceu à porta, maravilhosamente “trajada” com roupas de “ficar em casa”. Nesse momento as palavras faltaram em sua boca, as ações em seu corpo, o oxigênio em seu cérebro. Ao se deparar com o olhar dela docemente “inquisidor” estendeu o braço que carregava as flores e entregou-as em suas mãos. Após alguns momentos de silencio absoluto de ambas as partes a adrenalina tomou conta do seu sangue e disparou: “Sabe quem perderá de verdade nessa situação? Você! Conheço sua alma, os seus defeitos, seu passado, suas falhas de caráter, suas invejas, agouros, sorrisos forçados e seus medos. Sua beleza externa não ofusca a verdadeira visão que tenho de ti. Não perco o foco do seu interior nas curvas dos seus vestidos. Não te vejo como conquista, nem como prêmio. Te vejo como a única “coisa” que existe no universo capaz de preencher o imenso vazio que oxida minha alma. Como os “bom dias” da minha vida. Como o sol que invade o final do inverno. Como o orvalho nas plantas. Como um raio de luz invadindo a escuridão infinita... E sendo assim, te ofereço a única coisa que tenho, minha vida. Essa que por sua vez dedicaria todos os dias a sua, sem reservas ou mentiras, te trazendo dia pós dia os “mimos” e esperanças de um novo amanhecer. Eu sei que não é muito, mas é o melhor que posso oferecer, e essa sinceridade você não vai achar em nenhum outro lugar do mundo. Existe outra maneira de dizer eu te amo?” O silencio ficou palpável no ar. A tensão condensava os sentimentos. Quando o telefone dela tocou e ela o entendeu com uma lágrima caindo pelo canto do olho, ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Com um sorriso natural ela virou as costas para falar com sua “nova vida”, enquanto ele se tornava tão devastado quanto as duas cidades japonesas que o Enola Gay destruiu.