Meia década depois casualmente eles se encontram. Foram cinco anos, sessenta meses, mil oitocentos e vinte e cinco dias, quinhentas e vinte e cinco mil e seiscentas horas e milhares de minutos (para não precisar fazer a conta). Foram poucas notícias, nenhuma palavra trocada e nenhum contato cordial. Primeiramente a surpresa. Ambos sozinhos e perdidos na noite. Ambos com casamentos desfeitos e muitas outras bagagens. O ar fica denso. Os sorrisos são nervosos. A tensão fica no ar. Os amigos em comum gaguejam. No ápice do que parecia constrangimento, é quebrado o gelo: “olá, que saudade que estava de ti!” Ele não sabe o que faz. Ela toma a frente. Abraçam-se. O respeito impera entre o dois. O contato é breve. Cada um retorna ao seu campo. Segue a noite, como deveria ser. Aumenta a música e o teor alcoólico, com a desculpa de tomar coragem. Quando a banda termina ambos se encontram na área descriminada aos fumantes. Ele não resiste de sentar junto dela. Ela baixa a guarda e aceita. Seguindo uma conversa tensa e estranha eles começam a trocar algumas palavras. Perguntam mutuamente como está à vida, os planos e o que têm feito. Ela reside num estado diferente do dele. O encontro acontece devido às férias de ambos. Algumas palavras depois, uma suave e agradável lavação de roupa suja começa. As risadas tomam conta do ambiente. O ar não está mais denso. O que era cinza ficou colorido. Os amigos aprovam o dialogo de longe. E a noite segue, de forma agradável e gratificante. Ela explica antigas duvidas. Ele expõe velhas mágoas. E ambos acham tudo graça. A bebida não pára de vir para a mesa. Ela atira, ele recolhe. Ainda tem medo. Ela entende. Mais tarde ele avança a linha, ela sorri e recua. E o clima segue mais agradável do que nunca. As mágoas parecem não ter mais importância. O contato está tão agradável que o mundo simplesmente pára de girar. Só existe aquela mesa, aqueles dois e aquele bar que era tão comum para ambos. Infelizmente é chegada a hora de ir embora. O respeito toma conta dos dois. Aparece a dúvida no ar. "Vamos juntos?" "Para onde?" "Só por hoje?" Ambos não querem se despedir. Mas nenhum deles ousa. Abraçam-se num longo e macio abraço. Ele beija o rosto dela com ternura. Ela joga o último charme. Despedem-se. Os carros estão na mesma rua, para o mesmo lado. Aumenta a tensão. Abraçam-se de novo, num abraço cada vez mais longo. Ele foge, ela foge. Cada qual entra em seu carro. Um último sorriso. Ela levou junto consigo a ternura incondicional dele. Ele levou aquele perfume que o assombrou por tantos anos. Ambos concordaram que o tempo cura quase tudo. Só não curou o que ambos sentem e não conseguem mais compartilhar.
PS: Escrevi isso com essa trilha sonora:
http://www.youtube.com/watch?v=SmVAWKfJ4Go&feature=related
Johnny Cash foi "o cara".