Consumo o tinto como cupins devoram um móvel velho,
Tenho todo o tempo do mundo.
Lentidão aparente e pensamentos fervilhantes,
Fazem um estrago nessa linha de tempo.
A porta aberta é um convite ao inesperado.
Como se fosse possível fechá-la,
uma sombra encobre o que poderia ser teu rosto,
ou uma foto velha no canto da sala.
Até quem me vê caminhar na rua sente o peso que sinto,
Refluxo do doce ingerido na ausência imposta.
Dou-te um poema.
Uma celebração do quanto já passou o tempo,
Esse mesmo que já virou anos!
E ainda assim,
Sem tu passares por mim.
E se por acaso aparecesses,
Seria mais um desses mistérios do amor,
Mas se não apareceres não importa:
Esse poema é teu.
A comédia cotidiana vai me distrair
Enquanto a fumaça do cigarro ainda desenhar teu rosto,
E assim se desfazer no ar.
Esse poema é teu
É direito poder assim falar.
Na escuridão que espera a luz tua,
E até lá:
Esse poema é só o que posso dar.