Pura presunção
Mas se chegar a tanto
Prenda os olhos naquele senhor velho
Fumando sozinho ali no canto
As mãos já são tortas
Não encontra mais a própria música
Perdeu o ritmo da vida
Somente a solidão ele busca
Às vezes cantarola algumas canções velhas
Outras prefere contar algumas histórias
Que ninguém acredita
Mas ele as conta
Sempre repete as mesmas
Onde ele é o herói de si mesmo
O garçom pergunta:
“O de sempre Seu André?”
Ele responde que sim com a cabeça
Algumas vezes parece achar que ninguém merece uma palavra sua
Quanta arrogância daquele senhor velho!
Acho que não tem família
Nunca o vi com filhos
Parece não dar a mínima para o que construiu
E ainda, uma vez, o ouvir dizer:
“Se fosse tão importante não seria papel.”
Quanta arrogância daquele senhor velho...
Mas o que mais me intriga
Por que ele ainda escreve? E para quem?
Guarda tudo nos bolsos
Quanta ignorância daquele senhor velho!
Que a solidão tenha piedade dele e a morte se faça implacável
Para assim redimir aquele senhor velho
- Olha como ele caminha!
Parece carregar todos os pecados do mundo nas costas
Lá se vai o senhor velho
Mas para onde?